O bem mais precioso é o tempo. E tenhamos a certeza: aquilo de que os nossos semelhantes mais precisam é que lhes demos tempo. Quer se trate dos desconhecidos com quem apenas nos cruzámos, ou daqueles que partilham a vida connosco.
E o que é o tempo? É disponibilidade para uma escuta em profundidade. É disposição para um encontro verdadeiro, que não seja um mero esbarrar-se no outro. É espaço para ver, para sentir, para ter compaixão, para fazer um pedaço de caminho em conjunto.
Sensibilizou-me muito uma história que uma amiga, professora de liceu, me contou. Deu-se conta, um dia, de que uma das suas estudantes tinha alguma coisa no nariz que brilhava, e aproximou-se: era um “piercing”.
Falaram disso: queria compreender as motivações da adolescente; escolheu a ocasião e falou também da nossa cultura e daquela grande descoberta que é o nosso corpo.
A jovem dialogou com muita naturalidade e interesse. No fim, contudo, confiou à professora: «Tenho este “piercing” há quase seis meses, e os meus pais ainda não o notaram».
Quando oferecemos tempo, à nossa mesa vem sentar-se o mundo inteiro. A realidade torna-se menos opaca e incompreensível. Conseguimos interpretá-la melhor, e até a colhê-la numa transparência que antes nos era desconhecida.
A realidade não é uma coisa genérica, nem tem lugar num olhar rápido. A vida está cheia de detalhes que não se revelam a quem não seja sensível ao tempo.
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
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