sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Toque de vida

Artigo/Crónica por António Rego
no Correio da Manhã

Olho uma longa escadaria que parte da rua, nível comum dos mortais, e harmoniosamente sobe até ao adro duma alta igreja com suas imponentes torres. É o edifício referência da freguesia harmoniosamente estendida por um espaço discreto com uma variedade inteligente de casas, campos de cultivo, filas de árvores centenárias, páginas de história dum povo que em cada época vai marcando um sinal novo como o tempo no seu silêncio é capaz de criar.
Dir-se-ia, num primeiro olhar, que nada de novo se passa em relação a milhares de aglomerados que se estendem por todo o mundo. Tetos, ruas, árvores são paisagens milenares onde o homem se foi protegendo e expondo a sua arte. A casa é algo de sagrado, templo familiar onde se geram vidas, passam gerações e se vivem e contam as mais belas histórias. Habituámo-nos a chamar lar, doce lar, onde uma lareira ainda que ornamental oferece um toque humano que permite partilhar o melhor desse aglomerado precioso a que chamamos família e onde se aprendem as melhores lições da vida que jamais alguma escola ou universidade souberam ensinar. Não obstante os sobressaltos do tempo, continua a ser a melhor raiz na árvore de cada vida plantada num grande ou pequeno espaço.
Todos nós sabemos isso, mesmo que não o digamos todos os dias.
Sentimos este toque de afeto que nos faz crescer na esperança de que vale a pena viver. Os tempos que correm não se prestam muito à contemplação deste tesouro que se esconde no nosso coração. Mas sabemos que sem ele a vida nem mereceria esse nome.
"Sinto-me em casa." Será das expressões que saídas do coração melhor expressam a nossa tranquilidade. A casa mais do que um espaço é um compêndio de história resumido onde ressaltam os momentos mais pacíficos da nossa existência. Desejo que nestas linhas se "sinta em casa".

António Rego

Publicado no Correio da Manhã

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