quarta-feira, 19 de junho de 2019

Francisco e Bento XVI - A tradição é como as raízes


Bento XVI e Francisco

Sempre que o vou visitar, sinto-o assim. Pego-lhe na mão, e faço-o falar. Fala pouco, fala devagar, mas com a mesma profundidade de sempre. Porque o problema de Bento XVI são os joelhos, não a cabeça: tem uma grande lucidez e eu, ouvindo-o falar, torno-me forte, sinto a «seiva» das raízes que vem a mim e me ajuda a seguir em frente. 
Sinto esta tradição da Igreja, que não é uma coisa de museu. A tradição é como as raízes, que te dão a seiva para crescer. Não te tornarás como as raízes! Tu florescerás, a árvore crescerá, darás fruto e as sementes serão raízes para os outros. A tradição da Igreja está sempre em movimento. 
Numa entrevista feita por Andrea Monda e publicada em «L’Osservatore…», alguns dias atrás, havia uma passagem do músico Gustav Mahler, que muito me agradou. Falando precisamente das tradições, dizia ele: «A tradição é a garantia do futuro, e não a guardiã das cinzas». Não é um museu. A tradição não guarda as cinzas. 
A nostalgia dos fundamentalistas, voltar às cinzas, não. A tradição são raízes que garantem à árvore crescer, florescer e dar fruto. E repito aquele texto do poeta argentino que gosto tanto de citar: «Tudo aquilo que a árvore tem de florido, vem-lhe do que está enterrado». 

Conversa com os jornalistas, no regresso da viagem à Roménia, no dia 2 de junho. 

Publicado no jornal Timoneiro desse mês 

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