segunda-feira, 4 de março de 2019

Mensagem da Quaresma do Bispo de Aveiro


Sepultados com Ele no Batismo, 
foi também com Ele que ressuscitastes 
(Col 2,12)

D. António Moiteiro
O tempo de preparação rumo à Páscoa é propício para refletir sobre a vida cristã, a vida que provém do próprio Cristo. Para isso, temos de reavivar a consciência do sacramento que nos permite imergir no mistério de Cristo: o Batismo, tal como nos propõe o nosso Programa Pastoral.
A palavra Batismo significa mergulhar, imergir. Este mergulhar nas águas simboliza o sepultamento do homem velho na morte de Cristo, da qual com Ele ressuscita, como nova criatura (cf. 2Cor 5,17; Gl6,15). O Batismo é a experiência que cada cristão faz em si mesmo da paixão, morte e ressurreição de Jesus.
A centralidade de Deus na nossa vida constitui uma primeira consequência do Batismo. Reunidos com Cristo pelo Batismo, os cristãos são constituídos Povo de Deus, feitos novas criaturas pela água e pelo Espírito Santo, sendo chamados de verdade filhos de Deus. O Batismo constitui o nascimento para uma vida nova em Cristo. É o primeiro sacramento da Nova Lei que Cristo confiou à Igreja quando disse aos apóstolos: – “Ide, fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a observar tudo quanto vos ordenei” (Mt 28,19).
São Paulo associa o Batismo à morte e ressurreição de Cristo. Afirma que é pela fé na ressurreição de Cristo que nós fomos regenerados: – “Sepultados com Ele no Batismo, foi também com Ele que fostes ressuscitados, pela fé que tendes no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos” (Col 2,12). Pelo Batismo, a vida do Ressuscitado habita em nós. – “Pelo Batismo fomos, pois, sepultados com Ele na morte, para que, tal como Cristo foi ressuscitado de entre os mortos, pela glória do Pai, também nós caminhemos numa vida nova” (Rm 6,4). O Batismo é uma primeira etapa da Ressurreição: imersos em Deus, já nos encontramos mergulhados na vida indestrutível de Deus.
Superando de longe as purificações da antiga lei, o Batismo produz estes efeitos pela força do mistério da Paixão e Ressurreição do Senhor. Na verdade, os que são batizados são configurados com Cristo por morte semelhante à sua, sepultados com Ele na morte, também n’Ele são restituídos à vida e juntamente com Ele ressuscitam. Com efeito, no sacramento do Batismo, nada mais se comemora e realiza senão o mistério pascal, enquanto nele os homens e as mulheres passam da morte do pecado para a vida. Como refere o Papa Francisco na Mensagem para esta Quaresma, “quando se abandona a lei de Deus, a lei do amor, acaba por se afirmar a lei do mais forte sobre o mais fraco. O pecado – que habita no coração do homem (cf Mt 7,20-23), manifestando-se como avidez, ambição desmedida de bem-estar, desinteresse pelo bem dos outros e muitas vezes também do próprio – leva á exploração da criação (pessoas e meio ambiente), movidos por aquela ganância insaciável que considera todo o desejo um direito e que, mais cedo ou mais tarde, acabará por destruir inclusive quem está dominado por ela”.

A nossa caminhada quaresmal

Mediante o encontro pessoal com Cristo Redentor e através do jejum, da esmola e da oração, o nosso caminho de conversão rumo à Páscoa deve levar-nos a redescobrir o nosso Batismo, através de algumas práticas penitenciais:

1.º Testemunhar ao longo deste Ano Missionário a necessidade de viver a vocação cristã, nascida do Batismo, nas ocupações de cada dia, não tendo medo nem vergonha de anunciar a Boa Nova de Jesus quer nas nossas comunidades cristãs quer mesmo em terras de missão.

2.º Cultivar um estilo de vida simples e austero, partilhando os nossos bens com os mais necessitados. Ver menos televisão, usar menos o facebook como meio de expor a vida pessoal e a dos outros, o instagram, o whatsApp… tudo isso pode ajudar-nos a viver o silêncio como um meio privilegiado de encontro connosco mesmos e com os outros.

3.º Andar sempre na presença de Deus, procurando na oração um coração semelhante ao Coração misericordioso de Deus Pai.

4.º Viver as “24 horas para o Senhor” de forma comunitária, porque só partilhando a Palavra e celebrando juntos a Eucaristia e o sacramento da Reconciliação somos cada vez mais irmãos e vamo-nos transformando, pouco a pouco, em comunidade santa e missionária.

5.º Celebrar o Lausperene diocesano que se inicia a 3 de março na Paróquia de Agadão e termina a 16 de junho na Paróquia de Vilarinho do Bairro, tendo sempre como intenção primeira a causa das vocações sacerdotais e de consagração.

6.º Partilhar a nossa Renúncia Quaresmal com os nossos irmãos da Venezuela que estão a passar por momentos muito difíceis quer na vivência como povo quer na satisfação das necessidades básicas (alimentação, saúde…) e a quem somos também devedores pelo seu contributo partilhado anteriormente com tantas paróquias e centros sociais da nossa Diocese.

No domingo de Páscoa, os apóstolos receberam a vida nova do Ressuscitado, foram transfigurados em Cristo. Cabe a nós batizados, testemunhas da sua ressurreição, anunciar ao mundo que Ele está vivo no meio de nós e que a partir d’Ele um novo horizonte de vida se abre para o ser humano e para toda a criação.

Aveiro 27 de Fevereiro de 2019.

+ António Manuel Moiteiro Ramos, Bispo de Aveiro.

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